segunda-feira, 15 de junho de 2015

ACADEMIA AMAPAENSE DE LETRAS

    ACADEMIA AMAPAENSE DE LETRAS

    Por Nilson Montoril

 Na solenidade de posse dos membros da Academia Amapaense de Letras, ocorrida no Salão Nobre do Palácio do Setentrião, em agosto de 1988, o Governador Jorge Nova da Costa faz uso da palavra para enaltecer a bela iniciativa e desejar sucesso ao Silogeu. Á sua direita vemos o Juiz do Trabalho, Dr. Goergenor Franco Filho.Á esquerda, vislumbramos o Professor e Adm. Nilson Montoril de Araújo, Presidente da novel instituição.




                        Estimulados por membros da Academia Paraense de Letras, notáveis servidores públicos do Território Federal do Amapá decidiram fundar um Silogeu com as mesmas finalidades da congênere parauara, na cidade de Macapá. Isso ocorreu mo dia 21.6.1953, comemorando a passagem do aniversário do escritor Machado de Assis. Surgia dessa forma, a Academia Amapaense de Letras, uma entidade civil, sem fins lucrativos, que tem por finalidade implementar o desenvolvimento literário,cultural,cientifico e artístico do Brasil,conforme o estabelecido em suas normas internas. Decorrente de sua própria natureza, a Academia Amapaense de Letras funcionará por prazo indeterminado. Com sede e foro na cidade de Macapá, a AAL tem três categorias de sócios: titulares, correspondentes e honorários. Apenas o sócio titular goza do direito de votar e ser votado. A admissão de sócio titular, de caráter efetivo e perpétuo, dar-se-á por eleição, em escrutínio secreto, entre candidatos de qualquer sexo, inscritos previamente para preenchimento de vagas abertas com o falecimento de ocupantes anteriores, de uma das cadeiras indicadas no parágrafo 2º do Art. 4, ou que tenha mudado de categoria, ou abdicado de ser acadêmico, que tenha trabalhos publicados ou não, de reconhecido valor literário, cultural, cientifico, artístico ou histórico. Cada cadeira terá um patrono reconhecido como vulto ligado a história e cultura do Amapá. A solenidade de fundação do Silogeu amapaense aconteceu na sala de estudos da Biblioteca “Clemente Mariani”, do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, entidade constituída por estudantes do então Ginásio Amapaense, instalada no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. 
Solenidade comemorativa dos 39 anos de criação da Academia Amapaense de Letras realizada na sala Professor Mário Quirino da Silva, local das sessões plenária do Conselho Territorial de Educação. O Professor e Adm. Nilson Montoril de Araújo faz um retrospecto histórico sobre o Silogeu.Á sua esquerda vemos os acadêmicos Heitor de Azevedo Picanço(fundador),Elfredo Távora Gonsalves, Amaury Guimarães Farias e Estácio Vidal Picanço


Os sócios fundadores foram: Benedito Alves Cardoso (Presidente), Gabriel de Almeida Café (Secretário), João Elias de Nazaré Cardoso, Nelson Geraldo Sofiatti, Heitor de Azevedo Picanço (Bibliotecário), Amilcar da Silva Pereira (Tesoureiro), Uriel Sales de Araújo, Célio Rodrigues Cal, Oton Accioli Ramos, Mário de Medeiros Barbosa, Lício Mariolino Solheiro e Jarbas Amorim Cavalcante. Cinco sócios honorários foram distinguidos: Diniz Henrique Botelho, Altino Pimenta, Deputado Coaracy Nunes, Dr. Hildemar Pimentel Maia e tenente coronel Janary Gentil Nunes, governador do Amapá. A instalação do colegiado e a posse de seus membros aconteceu no dia 5 de julho. Os sócios fundadores exerciam o magistério do Ginásio Amapaense. Em pouco tempo a entidade deixou de atuar regularmente e nenhum trabalho de estruturação foi realizado. No inicio do ano de 1989, fui procurado pelo Dr. Georgenor Franco Filho, Juiz do Trabalho de Macapá e membro da Academia Paraense de Letras, que demonstrou interesse em soerguer o Silogeu e gostaria de contar com minha ajuda. Tinha tratado do assunto com o advogado Antônio Cabral de Castro, que lhe falou a meu respeito. 
A partir do Amaury Farias(terno azul) enumeramos:Heitor de Azevedo Picanço,Antônio Carlos Farias,Paulo Fernando Batista Guerra,Hélio Guarany Pennafort,Nilson Montoril de Araújo,Padre Jorge Basile,Aracy Miranda de Mont'Alverne,,Elfredo Távora Gonçalves,Manoel Bispo Correa e Estácio Vidal Picanço

Eu exercia a Presidência do Conselho Territorial de Educação e pude dispor do plenário do órgão para a realização da reunião preparatória visando à organização da Academia Amapaense de Letras. No dia 31 de agosto, às 20h:30min, na Sala de Sessões Plenárias Mário Quirino da Silva, estiveram reunidos: Georgenor de Souza Franco Filho, Nilson Montoril de Araújo,Antônio Cabral de Castro,Dagoberto Damasceno Costa,Estácio Vidal Picanço,Fernando Pimentel Canto e Manuel Bispo Corrêa. Analisamos um modelo de estatuto apresentado pelo Dr. Georgenor, relacionamos os patronos das cadeiras e decidimos que, inicialmente a Academia funcionaria com apenas 20 sócios titulares, salvaguardando-se o direito dos sócios fundadores. Dentre eles, somente Heitor de Azevedo Picanço residia em Macapá. Posteriormente, outros valores literários foram incorporados ao grupo, que ficou constituído por 22 membros. Até o presente momento, 11 sócios faleceram: Alcy Araújo Cavalcante, Aracy Miranda de Mont’Alverne, Estácio Vidal Picanço,Hélio Guarany Pennafort, Elfredo Távora Gonçalves, Jorge Basile,Arthur Nery Marinho,Heitor de Azevedo Picanço,Isnard Brandão Filho,José de Alencar Feijó Benevides e Amaury Guimarães Farias. Os sócios restantes são: Nilson Montoril de Araújo, Georgenor Franco Filho, Antônio Munhoz Lopes, Antônio Cabral de Castro, Antônio Carlos Farias, Paulo Fernando Batista Guerra, Don Luiz Soares Vieira, Dagoberto Damasceno Costa, Fernando Pimentel Canto, Manoel Bispo Correa e Luiz Alberto Guedes. Dia 12 de setembro, no Salão Nobre do Palácio do Setentrião, em sessão presidida pelo Governador Nova da Costa, 15 acadêmicos tomaram posse. 
A despeito dos membros da Academia terem sido convocados com antecedência, apenas os sócios efetivos Antonio Munhoz Lopes e Luiz Soares Vieira(Bispo Diocesano de Macapá e vice presidente da Academia)compareceram a minha residencia, para recepcionarmos o Dr. Mauro, Presidente da Academia Brasiliense de Letras.

A posse da primeira diretoria se deu no dia 17 de outubro: Presidente, Nilson Montoril de Araújo; Vice-Presidente, Dom Luiz Soares Vieira; Secretária, Aracy Miranda de Mont’Alverne; Tesoureiro, Antônio Carlos da Silva Farias;Diretor de Biblioteca, Dagoberto Damasceno Costa;Comissão de Contas:Antônio Cabral de Castro,Antônio Munhoz Lopes e Paulo Fernando Batista Guerra.Infelizmente, o euforismo inicial cedeu lugar a acomodação da maioria dos sócios.Isso gerou sérios problemas para o pleno funcionamento da instituição. Podendo deliberar com a presença de pelo menos 5 membros, o Silogeu raríssimas vezes atingiu este número.Na última sexta-feira,dia 22 de maio, apenas os acadêmicos Montoril,Guerra e Munhoz marcaram presença a uma reunião solicitada por um dos sócios,que não compareceu. Mesmo assim, apreciações importantes foram feitas e deverão ser discutidas com demais sete acadêmicos, se eles aparecerem ao próximo encontro. A Academia Amapaense de Letras está em perfeitas condições para funcionar. Para fazê-lo plenamente, basta que os sócios restantes pensem seriamente na instituição e não nos seus interesses individuais.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

TRANSAZÔNICA,UMA ESTRADA SEM FIM



 TRANSAMAZÔNICA, UMA ESTRADA SEM FIM

 Por  Nilson Montoril


O Presidente Emilio Garrastazu Médice cumprimenta o Ministro do Interior, Mário David Andreaza,junto ao tronco da castanheira derrubada no inicio da construção da Transamazônica. No que restou da portentosa árvore foi afixada a placa que ainda hoje pode ser vista no chamado "pau do presidente, em Altamira.
                        No dia 6 de junho de 1970, o general Emilio Garrastazu Médice, presidente do Brasil, foi ao Nordeste para ver de perto os efeitos devastadores que a seca estava causando na região. No retorno a Brasília passou por Recife, onde anunciou o propósito do governo em construir a rodovia Transamazônica e assim transferir flagelados para a Amazônia. Ao encerrar o discurso que fez, afirmou que transporia “homens sem terra para terra sem homens”. A 16 de junho ele criou o Plano de Integração Nacional-PIN, no qual a abertura da Transamazônica era o projeto primordial. A concorrência pública foi lançada dia 18 de junho e as obras iniciaram em 1º de setembro de 1970. O dinheiro para o inicio da obra foi sacado do orçamento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM e da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE. Todas as providências para a concretização do projeto aconteceu de forma avassaladora. 

O Presidente Emilio Garrastazu Médice,ao lado do general João Batista Figueiredo,contempla a placa fixada no tronco de uma castanheira por ocasião do inicio das obras de construção da Rodovia Transamazônica,em Altamira, no Estado do Pará.
O governo pretendia instalar 500 mil colonos ao longo da estrada que passou a ser identificada como BR-230, na Amazônia. O propósito do projeto empolgava os governistas e os flagelados. Seriam instaladas agrovilas a cada 10 km da rodovia e, em cada uma delas, haveria entre 48 a 64 casas além de escola primária, capela ecumênica, armazém, clinica e farmácia. As casas ocupariam parte de terrenos com 20x80m a 25x125m. Cada família receberia uma gleba de 100 hectares(1 km por 1 km), preservando metade do terreno. A cada 50 km, haveria uma agrópole com quatro agrovilas sob sua jurisdição. Cada agrópole teria 500 casas e no máximo 2.500 habitantes. Ali funcionaria uma escola secundária, olaria, comércio e posto de gasolina. A cada 150 km, haveria uma rurópole com duas agrópoles em sua jurisdição. No dia 10 de outubro de 1970, Médice inaugurou, em Altamira, o marco inicial das obras da rodovia, ocasião em que uma castanheira de 50 metros foi derrubada. No tronco da monumental árvore foi colocada uma placa de bronze com os seguintes dizeres: “Nesta margem do Xingu, em plena selva Amazônica, o Sr. Presidente da República dá inicio à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde”.

O tronco da castanheira derrubada em 1970, com a placa que registra o inicio da grande empreitada,em 2010, 40 anos após este fato. No presente momento, fevereiro de 2014, contamos 43 anos do feito.O tempo se encarregou de provocar irreversíveis danos ao importante marco histórico. 
No trecho Altamira-Itaituba, surgiram a primeira agrópoles, a “Brasil Novo” e a primeira rurópoles,a “Presidente Médice”,consagrada como Medicilândia. A Brasil Novo dista 46 km do marco inicial da estrada. A Medicilândia ficou um pouco mais distante, a 90 km de Altamira. Dentre as agrovilas, a Leonardo da Vinci, localizada no município de Vitória do Xingu merece destaque, pois até rua asfaltada possui. No decorrer da década de 1970, o governo federal gastou mais de um bilhão e quinhentos mil dólares na construção da rodovia. Numa extensão de 4.000 km abertos na Amazônia, só restam 20 agrovilas em 2012. Medicilândia foi elevada à condição de município e hoje possui uma população de mais de 30 mil habitantes.

Agrovila Presidente Médice, que acabou consagrada como Medicilândia. O progresso por ela experimentado elevou-a à condição de sede do município de idêntico nome. No inicio de sua ocupação ainda não havia energia elétrica,água encanada e rua.
Em 1970, Altamira possuía cerca de três mil habitantes. Atualmente este contingente populacional é superior a 100 mil almas. A Transamazônica atravessa Altamira de leste a oeste numa extensão de 60 km. Belém está a 800 km da sede do citado município. O trecho Altamira-Itaituba compreende 500 km de distancia. Lonjura semelhante precisa ser percorrida entre Altamira-Marabá e Altamira-Santarém. Altamira é tida como a capital da Transamazônica, à margem do rio Xingu. Como os colonos não tiveram o crédito prometido pelo governo para plantar, foram saindo da região, vendendo ou simplesmente abandonando as terras recebidas. Os que chegaram a produzir alguma coisa não tiveram cesso ao mercado produtivo. Outros, nem terras receberam.
Uma das agrovilas implantadas ao longo da BR-230 - Transamazônica. Os lotes destinados às atividades produtivas mediam 100 hectares( 1 km por 1 km). O governo não assegurou as vantagens que foram prometidas aos assentados.


Uma motoscrit, também conhecida como e"euclides"em operação na abertura da Transamazônica. Robusta,ela raspava o chão,enchia sua basculante e depois espalhava a terra no trecho estava aterrando ou nivelando.
 
O inicio da construção da Transamazônica ficou marcada pela solene derrubada de uma castanheira de 50 metros de altura e despertou opiniões contraditórias sobre a validade do projeto incluso no Plano de Integração Nacional, que visava à ocupação física do solo por meio da abertura de estradas e tinha como meta absorvera mão-de-obra nordestina, disponível em grande quantidade devido às secas, e direcionar os fluxos de migração. Para que isso ocorresse, o governo federal pretendia fixar famílias na região amazônica, cujas terras, segundo a propaganda oficial, eram férteis e gratuitas. Os ocupantes das terras deveriam receber do governo titulo de legalização das mesmas, sementes para iniciar as plantações, vasta rede de postos médicos e escola para todos.

Entrada de Anapu, uma das agrovilas que evoluiu para sede de município. Esta situada às margens do rio Anapu,cujo significado na língua indígena é "ruído forte"e decorre do barulho produzido pelas águas do rio.Foi transformada em município em 1995.
 Todo o excedente da produção seria transportado para centros consumidores. O isolamento, o solo arenoso em grande parte, as chuvas torrenciais que transformam em rios de lama largos trechos da rodovia, dificultaram a adaptação dos colonos à região. A 3ª maior rodovia do Brasil foi projetada no governo do presidente Emilio Garrastazu Médice, de 1969 a 1974. Inaugurada dia 27 de dezembro de 1972, e classificada como uma rodovia transversal, a Transamazônica deveria ter 8 mil km de comprimento  ligando região Nordeste e Norte do Brasil com o Peru e o Equador. Posteriormente o projeto foi modificado para 4.977 km e a estrada chegaria ao município de Benjamim Constant. Entretanto, não passou de Lábrea com 4.233 km. No período chuvoso, que se estende de outubro a março, os trabalhos eram interrompidos e os trabalhadores ficavam isolados por terra.

No período chuvoso a situação de tráfego na Transamazônica e problemática. Nas áreas baixas, que antes eram capoeiras rebaixadas, o aterro ainda não foi devidamente compactado, fato que facilita danos causados pelos  repiquetes. As vezes,até três tratores de esteiras são estrategicamente colocados para operarem nestes trechos ajudando os carros a passar.
 Quando o tempo permitia, pequenos aviões, usando pistas precárias, faziam o transporte de viveres e medicamentos. Às vezes, os helicópteros também operavam na região. A comunicação era realizada através de rádio. A Transamazônica, identificada como BR-230, tem inicio na cidade portuária de Cabedelo, no Estado da Paraíba. Dos 4.233 km que possui, a rodovia tem 2.656 km asfaltados e 1577 km de terra. Ela corta os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Na Paraíba a Transamazônica compreende 521 km com boa condição de tráfego até a divisa com o Ceará.


No dia 14/1/2014, estive em Cabedelo e aproveitei a oportunidade para documentar minha passagem na cidade portuária da Paraíba. Quem retorna a Belém por via terrestre,tomando a rota de Picos, no Piauí, transita por toda a extensão da rodovia no Nordeste.
 Inicia em Cabedelo, se ponto extremo leste e em João Pessoa ela tem interseção com a BR-101, que dá acesso a Natal. Depois de João Pessoa a estrada passa por Bayeux, Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Sobrado, Caldas Brandão, Gurinhén, Mogeiro, Ingá, Riachão do Bacamarte, Massaranduba, Campina Grande (interseção com a BR-104 e acesso a Caruaru), Soledade, Juazeirinho, Junco do Seridó, Santa Luzia, São Mamede, Patos, Malta, Condado, São Benedito, Pombal, Aparecida, Souza, Marizopólis e Cajazeiras. É duplicada no trecho de 147,6 km entre Cabedelo e Campina Grande, conhecido como rodovia governador Antônio Mariz, para dar maior desenvolvimento à região com o transporte da safra agrícola.

Trecho da BR-230 que passa ao largo da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Trafeguei na pista direita(onde se vê o automóvel branco) da rodovia em 18/1/2011, quando estava em demanda de João Pessoa tendo saído de Exu.
 No estado do Ceará a estrada passa por Ipaumirim (interseção com a BR-116, acesso a Fortaleza), Lavras da Mangabeira, Vargem Alegre, Farias Brito, Antonina do Norte e Campos Sales. No Piauí ela passa por Picos (acesso a Teresina), Oeiras e Floriano. No Maranhão ela corta Balsas e Imperatriz. Nesta cidade existe interseção para Belém, Palmas (Tocantins), Goiânia (Goiás) e Brasília (DF). No Estado de Tocantins: Aguiarnópoles, Nazaré/Santa Terezinha a 2 e 3 km da rodovia,respectivamente.Luzinópoles,Cachoeirinha,(a 2 km da rodovia),São Bento do Tocantins, Araguatins(a 8 km da estrada), além de acesso pela TO-010 ao povoado de Transraguaia e travessia do rio Araguaia. 

Entrada da cidade de Pombal, na Paraíba. Já passei neste local em 1999 e 2011. Não há como deixar de lembrar a música Maringá, principalmente aparte da letra da canção que diz: " antigamente uma alegria sem igual,dominava aquela gente da  cidade de Pombal". Foi o nome desta música que deu identidade a Maringá, no Paraná.
No Estado do Pará o primeiro centro urbano é Palestina do Pará, cujo centro da cidade dista 6 km da estrada. Seguem: Brejo Grande do Araguaia (a 2 km), São Domingos do Araguaia (a 4 km), Marabá (acesso a Parauapebas, Xinguara e a Redação pela BR-155), Itupiranga, Novo Repartimento (acesso a Tucurui pela BR-422), Pacajá, Anapu (acesso a Vitória do Xingu pela PA-415), Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Rurópoles (acesso a Belterra e a Santarém pela BR-163/Rodovia Cuiabá-Santarém, Campo Verde (distrito de Itaituba com acesso a Trairão, Novo Progresso e a Cuiabá/Mato Grosso pela BR-163) Itaituba (travessia sobre o rio Tapajós) Jacareacanga (a 7 km da rodovia). No Estado do Amazonas: Apuí, Humaitá (acesso a Porto Velho/Rondônia e a Manaus pela BR-319) e Lábrea. 

Mapa das regiões Nordeste e Norte com o traçado da Transamazônica.O trecho tracejado em preto e amarelo indica por onde a rodovia deveria passar  até atingir Benjamim Constat.
Em 1974, 300 famílias foram assentadas no trecho km 930 a 1035, em Humaitá e cada uma delas recebeu lote de 100 hectares. Estima-se que, no entorno da Transamazônica vivem cerca de um milhão e 200mil pessoas, a maioria no Pará. O trecho deste estado concentra 60% da produção de cacau e 20% da criação de gado. No dia 12 de janeiro de 2011, percorri o trecho que se estende de Fortaleza a Crato, trafegando pelo perímetro acima descrito. Dia 18 do mesmo mês e ano sai de Exu (Pernambuco) seguindo o mesmo trecho e passando pela extensão da BR-230, até João Pessoa. No dia 22 de janeiro de 2014, viajamos de Crato (Ceará) para Teresina (Piauí), trafegando pela Transamazônica e passando por Picos, Oeiras e Floriano. 

Trecho de Pacajá, no Estado do Pará.
No Maranhão, ainda trilhando pela BR-230, passamos por Balsas e Imperatriz. Nesta cidade a estrada faz conexão com outra rodovia que leva a Belém, Palmas, Goiânia e Brasília. Em Cabedelo-PB, perto do porto e da  Fortaleza de Santa Terezinha, há uma placa que assinala o inicio da rodovia Transamazônica, a BR-230. Documentei em foto minha presença no local. O trecho problemático da Transamazônica está localizado no Pará e Amazonas. No Nordeste o movimento de veículos é intenso e as estradas estão em ótima condição de tráfego. Testemunhei este fato, identificando, pela chapa do veículo sua procedência. Nos postos de combustível indaguei a diversos motoristas o destino da carga que transportavam. Em maior quantidade elas eram conduzidas para Belém, São Luiz, Palmas, Marabá e Santarém. 
O corpo da freira Doroty Mea Stang depois dela ter sido assassinada por pistoleiro de aluguel a mando de proprietário de terra que fazia exploração ilegal de madeira em Anapu. A religiosa foi atingida por seis tiros porque se opunha a tal procedimento e denunciava os transgressores da lei às autoridades.
Este mapa se reporta às três rodovias que ainda podem ser asfaltadas e melhorar a vida dos que teimam em viver nas regiões por onde elas passam. A mais extensa é a BR-230,a Transamazônica. A BR-319,a Manaus-Porto Velho possui trechos que só não foram totalmente tomados pela floresta devido as atividades das companhias de eletricidade e telecomunicações que precisam utilizá-la. A BR-163, a Cuiabá-Santarém, poderá beneficiar o porto de Santana,no Amapá, com a exportação de grãos.
Presidente Médice e seus assessores contemplando a maquete da construção da Transamazônica, em 1970.
Bonita vista aérea da Transamazônica,no Estado do Pará.Imagine o progresso que a região teria se ela estivesse asfaltada totalmente

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ASSARÉ E SERRA DE SANTANA



                                        ASSARÉ E SERRA DE SANTANA

                                                                         Nilson Montoril

Imagem de Nossa Senhora das Dores, padroeira do Assaré.
                        O município cearense de Assaré dista 490 km de Fortaleza e 82 km da cidade do Crato. Possui uma área de 1.116,320 km quadrados e situa-se no lado oeste da Chapada do Araripe. A atual sede municipal despontou como vila em 1865, quando havia se desmembrado de Sobreiro. É município desde 1950 e conta com os distritos de Amaro, Genezaré, Aratana e Assaré. Ao ser desmembrado de Sobreiro o nome do município era Assaipio de Assaré. O clima é quente semi-árido com chuvas de janeiro a abril. Na língua tapuia, Assaré significa travessia diferente ou atalho. A Serra de Santana, que está localizada a 18 km de Assaré é uma das elevações importantes de Assaré. Existem várias fontes de água espalhadas por toda a área da Chapada do Araripe, na jurisdição de Assaré. A barragem Canoas é o maior reservatório de água da região. O antigo açude Bangüê ainda se mantém acumulando o precioso liquido, mas está relativamente assoreado. Perto dele ficava o Sitio Cachoeira, propriedade de meus trisavôs Antônio da Silva Pereira e Maria Angelina de Alencar da Silva. 

Memorial Patativa do Assaré. No local onde está erguido o prédio que abriga o acervo de Antônio Gonçalves da Silva existiu um casarão que pertenceu a uma família tradicional da cidade. Foi desapropriado pela Prefeitura de Assaré. O importante Museu, que é bastante frequentado por estudantes e populares, recebe apoio financeiro da Prefeitura, do Governo do Ceará e do Ministério da Cultura.
Foi herdada pela filha do casal Luzia da Conceição de Alencar da Silva, que alterou seu nome para Luzia da Conceição Montoril após o casamento com Joaquim Pereira Montoril. Antônio Pereira da Silva desempenhou o importante cargo de Juiz de Paz de Assaré. O casal Joaquim e Luzia gerou quatro filhos, que tiveram vida relativamente longa: Antônio Pereira Montoril, Maria Pereira Montoril, José Pereira Montoril e Alexandre Pereira Montoril. Minha avó Maria Montoril casou com João Lourenço de Araújo e concebeu dez filhos, mas apenas quatro alcançaram a fase adulta: Francisca Olga Montoril de Araújo, Francisco Olavo Montoril de Araújo, Francisca Lourdes Montoril de Araújo e Francisca Juracy Montoril de Araújo Cabral. Essa última vive em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba e fará 94 anos de idade no vindouro dia 20 de fevereiro.Maria e Lourdes estão sepultadas em Castanhal, onde faleceram.Olga Montoril
morreu a 5 de julho de 1955, na cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá.
Casa onde morou o Patativa do Assaré., em Serra de Santana. Atualmente o imóvel está precisando de reparos. A casa é bem espaçosa e contém alguns bens que não foram catalogados para integrar o acervo do Memorial, em Assaré. Antônio Patativa gostava de ficar sentado em frente da casa sentindo a suave brisa da Serra de Santana.
Na Serra de Santana morava Maria Pereira da Silva, a Mariinha, prima de minha trisavó Luzia Montoril, casada com Pedro Gonçalves da Silva. Entre seus filhos havia o Antônio Gonçalves da Silva, que se tornou poeta popular, compositor, cantor e repentista. Estudou apenas seis meses em escola de Assaré, mas tinha uma impressionante inteligência. Lia tudo que caia em suas mãos. Antônio nasceu no dia 5 de março de 1909. Ficou órfão aos 8 anos, em 1917. Em decorrência de uma doença conhecida como “dor d'olhos” perdeu a vista direita. Trabalhou duro na lavoura ajudando a mãe. Quando Antônio Gonçalves completou 16 anos pediu a sua mãe para vender uma cabra que lhe pertencia e comprasse uma viola. Ela o atendeu e Antônio passou a buscar parceiros para suas apresentações.

Fotografia tirada no dia 21/1/2014, no salão de recepção do Memorial Patativa do Assaré.No sentido dos ponteiros do relógio o flagrante mostra a Fátima Cidrão, Pedro Gonçalves, filho do Patativa,Nilson Montoril de Araújo e Rosa Araújo.Pedro é o mais novo dos filhos de Patativa,mora em Assaré e é pai de Fátima, coordenadora do Memorial.
 Fazia versinhos que serviam de graça para os assistentes. Progressivamente foi ampliando o palco de suas exibições e angariando fama. Em 1928, meu tio José Pereira Montoril, o Cazuzinha retornou a Assaré para rever familiares e amigos. Ele estava estabelecido na localidade Porto Serafim, no Furo Grande desde a década de 1910. Ali prevalecia a jurisdição do município paraense de Macapá. Em Assaré, Cazuzinha Montoril ficou hospedado na casa de seu primo José da Silva Pereira, a Pereirinha, que lhe falou a respeito de um parente de ambos residentes em Serra de Santana que era um prodígio de inspiração.

Patativa do Assaré segurando uma pássaro da espécie que lhe deu o nome artístico. Trata-se de um macho, cuja cor é acinzentada. A patativa fêmea tem a cor parda. O canto da patativa é suave e agradável. Antes dele receber esse apelido, o alagoano Augusto Calheiros já era chamado de "A Patativa do Norte".
 Destacava-se como improvisador, cantador em desafio a viola e outras modalidades conhecidas no folclore brasileiro. Cazuzinha Montoril decidiu ir a Serra de Santana para conhecer o primo violeiro e gostou da performance do parente. Foi preciso muita conversa para convencer Mariinha a deixar o jovem poeta acompanhá-lo ao Pará. A viagem para Belém, as suas custas, ocorreu no mês de maio a bordo do vapor Itapajé, as custas de Cazuzinha. Em Belém, Cazuzinha apresentou Antônio Gonçalves ao tabelião José Carvalho de Alencar, cearense do Crato que também era escritor e poeta. Carvalho organizou uma tertúlia e convidou um público seleto para prestigiar a apresentação de Antônio. O rapaz de Assaré fez uma formidável exibição

José Pereira Montoril, o Cazuzinha. Esse primo de Antônio Gonçalves da Silva o trouxe para a Amazônia,mais precisamente para o lugar Porto Serafim, no Furo Grande, Ilha do Marajó, que pertencia a Cazuzinha e estava sob jurisdição do município paraense de Macapá. Cazuzinha era irmão de minha avó Maria Montoril de Araújo e ambos nasceram no Sitio Cachoeira, em Assaré.
José Carvalho, em belas quadras deu a Antônio Gonçalves a alcunha de Patativa. O Major Cumaru elogiou o poeta, mas lamentou ele ser cego de um olho. Patativa de Assaré, ao agradecer os elogios dedilhou sua viola e cantou: “Minha sorte comigo, foi bem cruel e tirana, só me consente enxergar, três dias por semana”.Em 1928, o Intendente de Macapá era o tenente Otávio Accioly Ramos, amigo da família Montoril. Ele abriu as portas da Intendência Municipal para receber em tertúlia Patativa do Assaré. Em frente da edilidade havia uma grande casa amarela pertencente ao coronel Coriolano Finéas Jucá, cearense natural da cidade de Baturité, onde Cazuzinha Montoril se hospedava quando vinha a Macapá.

Os irmão Alexandre Pereira Montoril, Antônio Pereira Montoril e José Pereira Montoril, o Cazuzinha, irmãos de minha avó Maria Montoril,saíram de Assaré para prosperar em terras da Amazônia. Alexandre cursou odontologia em Manaus, onde galgou a patente de Coronel da Policia Militar do Amazonas e foi deputado estadual por quatro legislaturas. Antônio e José foram comerciantes bem sucedidos. O rapaz com a mão esquerda sobre o ombro direito de Antônio é o Rivadávia Montoril, seu filho que ainda reside em Belém.
 Desta vez Antônio Gonçalves da Silva o acompanhava. Dia 21 de janeiro de 2014, visitei meus parentes em Serra de Santana e vivi uma das maiores emoções de minha vida. Ali encontrei Geraldo, Inês e Aloísio, filhos de Patativa. Em Assaré conheci o Pedro e outro primo, o Raimundo Gonçalves, curiosamente conhecido como “Sem Preconceito”. Minha visita ao Memorial Patativa do Assaré foi marcante. Em pouco tempo vários familiares de Antônio Gonçalves e de meus antepassados que ali permaneceram foram ao memorial para conhecer o primo de Macapá. Passei mais de 4 horas conversando com os filhos de Patativa do Assaré e outros parentes. 

Geraldo Gonçalves da Silva é o filho mais velho de Patativa do Assaré. Tem 77 anos de idade, mas é dotado de espírito jovial. Muito parecido com o pai, costuma ser tratado como Geraldo Patativa. Na Serra de Santana foi o primeiro e nos recepcionar. Vez por outra declama alguns versos de seu pai.Adora conversar e contar novidades.Quando abusa um pouco no fraseado a irmã Inês lhe puxa as orelhas e pede desconto nas estórias que ele conta.
Conversa descontraída e alegre, principalmente quando o Geraldo Patativa fazia valer sua espontaneidade. As casas que visitamos são feitas de taipa-de -mão,um modo de edificação onde o barro bem amassado é fixado à parece composta por uma rede de ripas e ramos de árvores. Na cozinha da casa dos pais do Patativa vi uma espécie de dispensa edificada sobre o fogão,onde era guardada a produção de milho, arroz com casca e feijão.Como o fogo ficava aceso durante 24 horas, o calor e a fumaça que dele emanava impedia que os gorgulhos e outra pragas atacassem os alimentos armazenados. Geraldo, na brincadeira, disse que ali eram colocadas as moças velhas e feias que ficavam no caritó. 

Raimundo Iberalino,primo de Patativa do Assaré foi o primeiro membro da família a manter contato comigo.A foto foi tirada na recepção do Memorial. Na ocasião em que a fotografia foi batida eu anotava algumas informações importantes tendo minha esposa Rosa ao lado esquerdo. Iberalino tem o curioso apelido de "Sem Preconceito",mas em alguns momentos eu o identifiquei como "Sem Restrição". Solicito, chegou a oferecer sua casa,ao lado do Memorial para ficarmos hospedados.Na citada residência o Patativa residiu por algum tempo.
A estória do caritó o Geraldo falou a uma autoridade solteirona de Assaré e deixou a mulher muito enfezada. Inês lembrou que estiveram em Serra de Santana em época mais recuada, minha prima Capitulina Montoril e outros membros de minha família. Devido a problemas pulmonares a Capitulina precisava respirar ar puro,coisa que não falta naquela região elevada. Também passaram uns dias por lá Dona Sinhazinha, a segunda esposa de Cazuzinha, acompanhada do filho Joaquim e da enteada Luzia Lúcia, a Lucy. Meus avós João Lourenço e Maria Montoril migraram para Castanhal, no Estado do Pará, em março de 1932 e nunca mais retornaram a Assaré.

Ao centro, sentado, usando camisa azul vemos Antônio Gonçalves da Silva, o "Patativa do Assaré". Atrás dele, com a mão direita sobre seu ombro identifiquei a Inês, 74 anos,com uma filha, netos e netas. A esquerda de Patativa  está o Geraldo(camisa branca) e outros dois membros da família.(espero identificar todos em breve).
 Andaram por lá, há uns 30 anos minhas tias Francisca Lourdes e Francisca Juracy,com seus respectivos maridos José Alves de Lemos e Fernando Cabral de Melo,mas não encontraram os velhos amigos de outros tempos. Nos meus planos para as próximas férias, quando deveremos ir a Sergipe e Alagoas, incluirei uma permanência mais demorada em Assaré para rever os parentes e conhecer o que restou do Sítio Cachoeira e do Açude Banguê.

Uma foto rara de Patativa,sorrindo.

Na Rua Francisco Gomes nº 82,por trás da Igreja de Nossa Senhora das Dores, fica a sede do Memorial Patativa do Assaré. Estacionada na via pública vemos o veículo que usamos em nosso passeio pelo Nordeste. Sobre a calçada, em frente do Memorial vemos minha filha Débora e minha esposa Rosa.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    Por Nilson Montoril
 
As Negrinhas Namoradeiras entre as quais me posicionei para aparecer nesta fotografia estavam assentadas sobre um peitoral de uma janela no térreo de um sobrado de dois pavimentos localizado na Travessa Portugal, no Centro Histórico da cidade de  São Luiz, Estado do Maranhão.No local funciona um restaurante,cujo dono foi muito gentil comigo. Ele me disse que a maioria das pessoas nem se apercebe da presença das negrinhas na janela de seu estabelecimento comercial.
                        As negrinhas namoradeiras são um tipo de bonecas que ainda hoje enfeitam varandas, cozinhas, corredores, janelas de residências e de estabelecimentos comerciais, amurados, áreas de lazer e mesmo nas salas de muitas casas no interior do Brasil. Na época do Brasil colonial essa espécie de decoração evidenciava mulheres brancas, louras, olhos castanhos, lábios e unhas pintadas de encarnado. As primeiras bonecas foram trazidas de Portugal, mas depois passaram a ser confeccionadas no Brasil. Feitas de gesso, argila ou madeira, as bonecas namoradeiras podiam ser confundidas com as mulheres dos colonizadores, que não podiam aparecer reveladamente na frente cãs casas, principalmente as casadas.
A Boneca Namoradeira da foto enfeita o balcão de uma lanchonete num velho casario que outrora foi a Cadeia Pública de São Luiz.O imóvel foi totalmente restaurado e abriga inúmeras atividades culturais.

                            O costume teria surgido em Portugal na época da dominação moura. Para impedir que os passantes das ruas vissem as recatadas mulheres brancas bisbilhotando o que se passava na rua, os donos dos imóveis mandavam colocar um tipo de treliça de madeira chamada muxarabiê bloqueando as janelas.  Espécie de biombo tinha diversas frestas e através delas é que as mulheres viam o exterior das residências.  A palavra muxarabiê vem do Frances moucharaby, derivado do árabe masrabiya ou muxarabi. Assegura ventilação, sombra e permite olhar para o exterior sem ser observado. È uma patente influência da arquitetura moura na península ibérica. 
A fotografia acima foi tirada na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior, que é odontólogo estabelecido em São Luiz e de sua esposa Lana Nunes. Uma boneca igual encontra-se na cozinha de minha residência, em Macapá, graças ao presente que recebi da Lana. Todos os dias,ao entrar na cozinha, eu a cumprimento.

                    A descrição mais usual de muxarabiê corresponde a uma espécie de balcão mourisco, protegido por treliças em toda a altura da janela, o que o torna indevassável. Além do muxarabiê, também se fez uso das rótulas, esquadrias construídas em peças de madeira sobrepostas diagonalmente, de modo a formar desenhos variados, com a finalidade de resguardar a intimidade da família. A tradução literal de muxarabiê é: “De onde se vê sem ser visto”. 
Belíssima  arquitetura mourisca ainda existente em Portugal.
                          Na Região Nordeste o uso da urupema ainda é notado. Urupema é um vocábulo de origem tupy-guarany, mas também usado no nheengatu (fala bonita, correta), que designa uma esquadria feita de palha traçada de carnaúba, buriti, urubá. Entretanto, o termo também denomina uma espécie de peneira feita de fibras, usada para escorrer leite de coco, mandioca, bacaba e outros produtos decorrentes da maceração de frutos ou raízes. Pode ainda identificar um cesto esquinado, anguloso ou enquadrado utilizado como instrumento de pesca.
 
Casa em estilo colonial restaurada e conservando as rótulas de madeira nas janelas.
                        As bonecas namoradeiras são esculturas agradáveis, muito bem confeccionadas. Podem estar pintadas de preto, com olhos verdes, brincos, colares, pulseiras, enfeites presos ao cabelo, lábios e unhas pintadas de vermelho. Elas não são expostas em corpo inteiro, mas apenas a cabeça, busto, braços, ombros e mãos. De um modo geral as bonecas aparecem com o braço direito apoiado no beiral da janela ou no balcão que a bloqueia, com a cabeça inclinada e o queixo repousando na palma da mão. Essas bonecas podem ser entendidas como um recurso usado pelo dono da casa para mostra que em sua residência sempre tinha alguém vigilante na janela. 
Observe que apenas  uma janela do sobrado pintado de verde e branco tem um  muxarabiê. O prédio abriga atualmente uma biblioteca na cidade de Diamantina, Rua da Quitanda nº 48. Bela iniciativa que visa mostrar como as mulheres recatadas podiam ver o exterior sem serem vistas pelos transeuntes.

                         Quando estive em São Luiz, capital do Estado do Maranhão, no final do mês de novembro de 2012, freqüentei diversos lugares onde as negrinhas namoradeiras estavam expostas. Num velho prédio que teria servido como prisão, encontrei o busto de uma delas sobre o balcão de uma lanchonete. Outra boneca eu vi na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior e sua esposa Lana. Ao trafegar pela Travessa Portugal, no centro histórico da capital gonçalvina, deparei com outras duas negrinhas expostas na janela de um restaurante. Pedi autorização ao proprietário do estabelecimento e, postado entre as duas bonecas, solicitei que a Lana batesse uma fotografia. Gostei tanto das negrinhas que acabei ganhando uma de presente.

    
Boneca Namoradeira branca e loura é coisa rara de se ver, mas elas prontificam em Ritápolis. A moça representada não usa tantos enfeites como fazem as negrinhas. A danadinha é bonita, tanto quanto as bananas penduradas ao seu lado. Ambas devem ser deliciosas. A fotografia foi copiada do site nela  expresso.
                 






terça-feira, 12 de novembro de 2013

BICICLETAS EM MACAPÁ

      
      BICICLETAS EM MACAPÁ

      Por  Nilson Montoril
 
Veiculo construído de madeira segundo desenho feito por Leonardo da Vinci, em 1490.

                        Acredita-se que o primeiro engenho humano semelhante à bicicleta surgiu na China. Entretanto, entre os desenhos fantásticos concebidos por Leonardo da Vinci, corresponde a um veículo com duas rodas, que seria moldado em madeira. O desenho é de 1490 e inspirou o celerífero. Em 1817, o alemão Barão Karl Von Drais construiu um veículo a partir do celerífero feito em madeira. Porém, a bicicleta como o mundo conhece surgiu em 1880, na Inglaterra. Bicicleta é uma palavra originária do latim bi (duas) e do grego kiklos (rodas), com incursões pelo inglês bicycle, pelo diminutivo Frances bicyclette e pelo castelhano bicicleta. São inúmeras as marcas de bicicletas que se espalharam pelo mundo. No Brasil, a mais famosa delas foi a bicicleta Hércules, fabricada na Inglaterra graças a iniciativa de Edmond Crane, conhecido como Ted Crane.
Modelos nada convencionais fabricados em 1890, na Inglaterra. Os ciclistas tinham que possuir muito equilíbrio para poder  usá-los. É claro que uma mulher sentir-se ia extremamente desconfortável para sair pedalando algo tão esquisito.

 Ele foi o fundador da fábrica de bicicletas Hércules. Ted era filho de Jack Crane, que iniciou a vida empresarial fabricando 25 bicicletas por semana, em sua Companhia Ciclo Petroo, em Coventry Street, na cidade de Birmingham. Os veículos eram fortes e duráveis, justificando o nome que lhe foi dado. O velho Jack Crane contou com a ajuda dos filhos Ted e Harry em seu empreendimento, mas a robustez e o preço do veículo acabaram levando a empresa á falência. As bicicletas que não tinham sido vendidas com emissão de documento fiscal foram negociadas contrariando normas legais, fato que gerou problemas jurídicos para a família Crane.
A empresa cujo nome é visto no frontispício do prédio chegou a negociar cerca de um milhão de bicicletas.

 Em 1910, depois de livrarem-se do processo de conspiração econômica, os irmãos Crane decidiram criar a firma Ciclo Hércules and Motor Company. Iniciaram fabricando 25 veículos por semana e depois alcançaram a marca de 70 bicicletas. Em 1914, a fábrica obteve a produção de 10.000 bicicletas. Em 1923, Ted e Harry Crane compraram uma fábrica de pneus e câmaras de ar e iniciaram a construção de suas próprias peças. A bicicleta veio da Europa para o Brasil em 1898, no final do século XIX. Devido à migração alemã, ela foi inicialmente popularizada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aos poucos o veículo foi se tornando conhecido no restante do país. A bicicleta era importada desmontada. Apenas selins e pára-lamas eram fabricados no Brasil. 
A bicicleta que aparece em primeiro plano corresponde a um triciclo e tem até bagageiro. O casal que fazia uso do veículo vestia-se com elegância e ambos pedalavam.

Dominavam o mercado brasileiro as marcas Bianchi, Lanhagno, Peugeot, Duphopp, Phillips, Hércules, Raleigh, Prosdócimo, Singer, Caloi e Monark, todas importadas dos Estados Unidos da América. Em meados de 1940, devido à 2ª guerra mundial, que se espalhou pela Europa, o presidente Getúlio Vargas restringiu a entrada de produtos estrangeiros e estimulou a fabricação dos mesmos no Brasil, inclusive bicicletas. Entre 1950 e 1970, havia 30 fábricas no país e mais de 50 marcas e modelos. Em 1980, a Monark e a Caloi dominavam 95% do mercado. No último mês de agosto de 2013, a Caloi, que era a maior fabricante de Bicicletas da América Latina, com sede em Manaus, vendeu 70% de suas ações para a canadense Dorel Industries e hoje só detém 40% do mercado.
Vistosa bicicleta da marca Hércules devidamente equipada nos termos das normas existentes para que elas pudessem trafegar. O majestoso veículo possui luzes no para-lama e no garfo traseiro, dínamo, farol, bomba para encher as câmaras de ar, bagageiro e placa expedida pelo órgão de trânsito. Em Macapá, essas exigências também existiram.

 Não há registros formais sobre a existência de bicicletas em Macapá antes da criação do Território Federal do Amapá, em 1943. Elas começaram a aparecer na cidade a partir do ano de 1945. A casa Leão do Norte, então administrada pela família Zagury foi a primeira a vender os fascinantes veículos da marca Hércules. Em pouco tempo, quem não possuía uma bicicleta podia alugá-la pagando um cruzeiro à hora. O negócio era mantido pelo macapaense Francisco Marques Picanço, o Mixico, que ainda reside na capital do Amapá O próprio Mixico fazia a manutenção de suas bicicletas e montava e lubrificava as que eram vendidas na Casa Leão do Norte, onde trabalhava.
Foto tirada na Fazendinha, dia 13 de setembro de 1950.Em primeiro plano vemos alunas do Grupo Escolar Barão do Rio Branco. A 3ª estudante da 1ª fila é minha irmã Neyde Montoril de Araújo, integrante da Guarda de Honra à Bandeira Nacional.As alunas da Escola Normal de Macapá usavam camisas brancas de mangas compridas. Nota-se que algumas delas iriam desfilar em bicicletas.

 No decorrer de vários anos o Mixico destacou-se como o melhor ciclista da cidade, representando a Congregação Mariana e o Juventus Esporte Clube. Andar pedalando uma bicicleta Hércules dava um prestigio danado, notadamente se o veículo fosse próprio. O Mixico tinha umas 3 ou 4 bicicletas, todas impecáveis quanto ao estado de conservação. Creio que, atualmente, apenas o José do Carmo Tavares, o Zeca Eletricista é o único cidadão de Macapá a manter em funcionamento suas duas bicicletas da marca Hércules. E saiba que o Zeca tem mais de 80 anos de idade e todos os dias transita pelas ruas de Macapá.
 
A professora Predicanda Lopes(vestido escuro e óculos), então Diretora da Escola Normal de Macapá e diversas alunas do educandário,cercam a aluna Ahelhina Alencar e o aluno José Ubirajara de Souza que desfilariam em bicicletas no dia 7 de setembro.

                        Comprar uma bicicleta da marca Hércules não era privilégio reservado a qualquer um. O preço era salgado se comparado ao de outras marcas que depois foram aparecendo. A Casa Leão do Norte manteve a primazia de vender com exclusividade, por muitos anos, as bicicletas Monark. Foi neste estabelecimento comercial que, em 1966, comprei minha única bicicleta, um modelo com barra circular intitulado “Monark Copa do Mundo”. Antes, tive o prazer de pedalar uma bicicleta Goricke (fabricação alemã) e outra Mercswiss (fabricação totalmente brasileira), que pertenceram respectivamente as minhas irmãs Nice e Nancy. Lembro que a logomarca da Mercswiss era uma bela caravela, cuja placa vinha presa com rebites na parte do quadro por onde era embutido o garfo da roda dianteira e o guidom. Eram alvo de admiração as bicicletas utilizadas pelos padres italianos. 
Prova de ciclismo entre alunas dos estabelecimentos secundários de Macapá por ocasião da Primeira Olimpíada Estudantil. As seis atletas estão prontas para a largada, na Rua São José, esquina com a Avenida Iracema Carvão Nunes. O circuito compreendia o quadrilátero em torno da Praça Barão do Rio Branco com tempo controlado em cronômetro. Observa-se a presença do Professor Edésio Lobato, Diretor do Instituto de Educação passando por trás da 2ª ciclistas,próximo ao poste da rede elétrica.A marca de bicicleta que prevalecia era a Monarck.

Elas pareciam ser frágeis, mas suportavam muito bem o corpanzil do Irmão Leigo Francesco Mazollene, o famoso Catterpilar. Esse devotado religioso transportava com freqüência, sobre os ombros, um quarto trazeiro de carne bovina que os membros do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras consumiam na então Prelazia de Macapá. Fazia isso subindo a Rua Cândido Mendes, trajeto compreendido entre o Frigorífico Territorial (que ficava na esquina da citada rua com a Avenida Coaracy Nunes) e a Casa dos Padres, na Rua São José. As duas primeiras bicicletas oriundas da Itália, ambas da marca Bianchi, fabricadas em Treviglio, Milão a partir de 1885, pela fábrica de Edoardo Bianchi, chegaram a Macapá no dia 5 de outubro de 1948. 
Bicicleta Bianchi igual aos primeiros veículos italianos da citada  marca chegarem a Macapá, em 1948. Leves,mas robustas, as bicicletas podiam transpor os obstáculos existentes na periferia de Macapá. Os Padres do PIME que não sabiam pilotar as famosas moto Guzzi usavam as bicicletas Bianchi.
Elas vieram por via marítima até Belém e daí para Macapá em embarcações do governo territorial. Estavam montadas e prontas para uso imediato. Os dois maiores utilizadores das bicicletas eram o Padre Lino Simonelli e o irmão Francisco. O Padre Lino virava Macapá de cabeça pra baixo. Muito brincalhão, ele mesmo apitava com a boca para afastar apalermados do caminho. Ia freqüentemente pregar o catecismo na periferia da cidade, notadamente no Igarapé das Mulheres (Perpétuo Socorro) e o Morro do Sapo, assim denominada a parte alta no final da Rua São José, antes um precaríssimo caminho cortado por um braço do igarapé da Companhia, área que depois foi rasgada para a abertura da Avenida Nações Unidas.
Carlos Zagalo(camisa clara) e Nilson Montoril(camisa quadriculada) com suas bicicletas Monarck 12966 Copa do Mundo. A bicicleta do Zagalo era azul e branca. A minha era verde e branca.Ambas possuíam dínamo, farol e pneu balão.Sobre a ponta do para-lama dianteiro havia uma bola de futebol em miniatura,na cor branca. A foto foi tirada na parte posterior da Fortaleza São José, próximo ao Rio Amazonas.
 Nessas andanças pela periferia da cidade o Padre Lino contava com a colaboração do médico Diógenes Gonçalves da Silva, que fazia uso de uma velha bicicleta da marca Hércules trazida de Belém. Outra marca bicicleta que eu conheci e andei foi a Gulliver, fabricada em Bonsucesso no Rio de Janeiro pela firma “B Herzog”, pertencente à família de Leon Herzogera, seu fundador. Isso ocorreu a partir de 1951, e o veículo era de ótima qualidade. Em 1939 Leon Herzog possuía uma pequena fábrica na Polônia, mas a ocupação do país pela Alemanha o fez perder tudo. Em 1945, após a segunda guerra mundial Leon migrou para o Brasil. Sua lojinha de Bonsucesso cresceu até virar fábrica. Entretanto, devido a desentendimentos entre os familiares acionistas a firma encerrou suas atividades no final da década de 1950. As bicicletas de hoje são mais bonitas, leves, resistentes, mas perderam o encanto de outrora. Porém, a bicicleta é disparadamente, o veículo mais usado em todo o mundo

O  simbolo da bicicleta Mercswiss, exposto na quadro do veículo, corresponde a uma caravela. A bicicleta que vemos na imagem tinha varão,portanto destinada a homem. O modelo feminino era mais bonito.Minha irmã Nancy possuía uma e eu era seu sócio clandestino.

Velha bicicleta Haleigh equipada com dínamo, farol e buzina
A bicicleta vermelha da fotografia é uma Gulliver equipada com descanso, dínamo instalado no garfo dianteiro e farol
Bicicleta inglesa Hércules de 1928. Essa marca prevaleceu no volume de vendas em Macapá a partir de 1945. Pelo menos dois veículos iguais a que vemos na foto ainda existem na cidade e ambos pertencem ao macapaense José do Carmo Tavares, o Zeca Eletricista