terça-feira, 1 de maio de 2012

PRENDA O PADRE JORGE BASILE


    PRENDA O PADRE JORGE BASILE

    Por Nilson Montoril

Padre Jorge Basile chegou a Macapá em 1948, para atuar na Pastoral da Educação e Comunicação do Pontificio Intituto das Missões Estrangeiras. Foi o mais amapaense dos padres italianos que trabalharam no Amapá. Além de sacerdote, foi professor, jornalista, radialista e membro da Academia Amapaense de Letras. Esta fotografia registra o momento em que o Padre Jorge fazia uso da palavra em sessão festiva da Academia.Ele sempre foi um homem destemido e amigo devotado. À direita do Padre Jorge Basile,no Plenário Mário Quirino da Silva,do Conselho de Educação,vê-se os acadêmicos Paulo Fernando Batista Guerra, Aracy Mont'Alverne e Manoel Bispo Corrêa. 

                        Na manhã do dia 12 de maio de 1964, o Tenente Uadih Accioly Charone, Diretor da Divisão de Segurança e Guarda e Comandante da Guarda Territorial foi chamado ao Palácio do Governo, então instalado em um velho casarão edificado na área hoje ocupada pela Biblioteca Elcy Rodrigues Lacerda, para falar com o governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto. Assim que se apresentou, recebeu uma ordem que jamais esperava lhe fosse passada com tanto ímpeto e rancor: -“tenente Charone, prenda o Padre Jorge Basile e o próprio Bispo Aristides Piróvano se necessário”. Sem vacilar, o militar foi categórico em dizer que não a cumpriria. Foi imediatamente exonerado do cargo que ocupava e mandado que se recolhesse a Fortaleza São José. Esta determinação o tenente cumpriu imediatamente. Em pouco tempo os Delegados de Polícia, sargentos, cabos e soldados da Guarda Territorial também se recolheram à velha fortificação, deixando o Território do Amapá acéfalo quanto à segurança pública. Na época, ainda não havia corpo de tropa do Exército em Macapá. Funcionava apenas o Tiro de Guerra nº. 130, cujo diretor era o tenente Charone. O coronel Terêncio Porto era paraense e tinha sido nomeado para a cargo de governador pelo presidente Jango Goulart, que acatou uma indicação do coronel Janary Nunes, então exercendo o cargo de deputado federal. Nos 42 dias após a eclosão da revolução militar de 1964, muitas arbitrariedades foram cometidas em nome da revolução. O jornal “A Voz Católica”, editado pela Prelazia de Macapá, cujo redator era o Padre Jorge Basile, criticava os excessos praticados. Sem voz ativa com os integrantes dos órgãos de segurança pública, o governador comunicou o ocorrido ao Comando Militar da Amazônia/8ª Região Militar, Ministério da Justiça, Ministério da Guerra e Conselho de Segurança Nacional e solicitou tropas federais.
Coronel Terêncio Furtado de Mendonça Porto e seu padrinho político Janary Gentil Nunes desembarcando no Aeroporto Internacional de Macapá em 1962. Ambos foram solidários ao Presidente Jango Goulart após a renúncia de Jânio da Silva Quadros, mas evoluiram de opinião quando eclodiu a Revolução Militar de 31 de Março de 1964.

 Às 18h15m do dia 12 de maio, chegava a Macapá um avião da Força Aérea Brasileira transportando um contingente de soldados da 8ª Região Militar/ 26º Batalhão de Caçadores, comandado pelo capitão Francisco Moacyr Meyer Fontenelle. O destacamento veio fortemente armado, julgando que os revoltosos de Macapá estivessem dispostos a um enfrentamento. Parte do destacamento montou acampamento na Praça Barão do Rio Branco, para dar proteção ao governador, e os demais militares, sob o comando do capitão Fontenelle seguiram para a Fortaleza, onde não encontraram a menor resistência dos chamados “insurretos”. Alguns estudantes da Escola Técnica de Comércio do Amapá-ETCA, que foram prestar solidariedade ao tenente Charone, diretor do estabelecimento de ensino, em frente ao portão da Fortaleza, sentiram na pele a repressão dos agentes de um governo de exceção. Os lideres do movimento foram presos, o que bastou para a debandada dos demais.

Desfile do Dia da Pátria de 1963, realizado na Avenida Iracema Carvão Nunes, entre as duas alas da Praça Barão do Rio Branco, mostra o Tenente Uadih Accioly Charone em primeiro plano à frente do contingente da Guarda Territorial., saudando as autoridades que se encontravam no palanque oficial, entre elas o Governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto. Destaque para o Inspetor Ítalo Marques Picanço, membro de tradicional familia local conduzindo a Bandeira Nacional.

 Às 21 horas, quando os ânimos estavam serenados, o governador Terêncio Porto nomeou o Secretário Geral Orlando Sabóia Barros para, acumulativamente, exercer o cargo de Diretor da Divisão de Segurança e Guarda e o Comando da Guarda Territorial. Três dias depois, a 15 de maio de 1964, tomava posse na Presidência da República o marechal Castelo Branco, que, na mesma data, nomeou o general Luiz Mendes da Silva para governar o Amapá. No dia 16 de maio, o capitão Fontenelle assumiu a DSG e a GT. Também exercia a interventoria no Sindicato dos Estivadores. A partir da sua posse, a conta da chamada “denúncia branca”, dezenas de pessoas foram presas, acusadas de pertencerem ao movimento comunista. Graças a sua atuação em Macapá, Fontenelle foi transferido para o Rio de Janeiro no posto de major. O Grupo Tortura Nunca Mais denuncia Fontenelle como um dos torturadores do DOI/CODI, no período 1969/1970. O Processo sobre tortura, que se encontra no Superior Tribunal Militar, relata detalhes de sua atuação. Em 29/8/1964, o tenente Charone, reabilitado, voltava a dirigir a DSG.

Um comentário:

Cesar Bernardo de Souza disse...

Parabens para o eu amigo pelo aniversário onem transcorrido. Não sabia de tão valiosa data, mas dela me orgulho porque meu filho Danilo também é de 2 de maio. Mais uma afinidade qe nos aproxima ou que nos explica. Um grande abraço.
Obs: Estou botando seus textos noa facebook.