terça-feira, 12 de março de 2013

UM HERÓICO CEARENSE






                                 UM HERÓICO CEARENSE

                                              Nilson Montoril
Os irmãos Montoril. Alexandre é o primeiro à esquerda de quem observa a fotografia.Antônio é o do meio, frente a mesinha do estúdio onde foi feito o flagrante fotográfico. Ao seu lado, em pé, com a mão esquerda no ombro do pai vemos o Rivadávia Montoril. Sentado à esquerda de Antônio está José Pereira Montoril, conhecido no seio da familia como Cazuzinha. O nome Montoril deriva de "Montorio", monte existente na Itália de onde os primeiros membros da família sairam no sentido de Portugal e posteriormente migraram para o Ceará a fim de desenvolverem atividades agrícolas.
                         O titulo deste artigo figurou no jornal Gazeta de Noticias, edição do dia 8 de abril de 1954, autoria do jornalista H. Firmeza, então redator do importante órgão de comunicação social que circulava na capital alencarina, cujo teor transcrevo: “Cada um de nós encontra na vida criaturas boas que tomam um lugar em nosso coração e dele nunca saem, ainda que vivam longe de nossos olhos. Era eu menino (vejam quanto tempo não faz) no interior do Estado, quando foi residir no seio de minha família, como caixeiro viajante da casa comercial de meu pai, um rapazinho de pele clara, cabelos alourados e olhos azuis. Chamava-se Antônio Pereira Montoril. Tinha um caráter dócil e era honestíssimo, trabalhador, atenciosos, afetivo e serviçal. Conquistou logo a estima de todos de nossa família, da qual se tornou um elemento integrante. Todos lhe queriam como se fosse um filho ou irmão. A Amazônia, porém, o atraiu. Era o tempo em que se estabelecera uma forte corrente emigratória. Pessoas que por lá andavam vinham, de tempos em tempos, visitar a sua gente e traziam notícias animadoras dos recursos da vida amazônica, embora a insalubridade do clima e a luta em meio de selvas ainda não desbravadas.Localizou-se ele, já não me lembro por qual razão, em Macapá, no Estado do Pará, onde se dedicou à vida comercial, primeiramente como empregado e, mais tarde, como comerciante de conta própria. Os seus negócios progrediram.Tornou-se dono de barracão e fornecedor de uma numerosa freguesia de seringueiros, o que lhe deu meios para educar filhos adotivos,já que não os tivera do seu sangue. Um acidente casual com arma de fogo privou-o da visão de um dos olhos e, mais tarde,atingido o outro por um glaucoma, veio a cegar completamente.Mas foi nessa fase de cegueira que mais se acentuou a sua energia física e moral.Fez várias viagens ao Sul na tentativa inútil de recobrar a vista, inclusive a Minas Gerais, ao tempo dos célebres milagres do Padre Antônio. O seu espírito não se abatia com o fracasso dos tratamentos e a sua atividade não esmorecia.O seu tacto adquiriu uma acuidade tamanha que lhe permitia locomover-se sozinho. A qualquer hora, na escuridão da noite dos olhos, ia diretamente, dentro do seu estabelecimento ou de sua residência, ao local onde estivesse qualquer objeto de que precisasse, como se transportava a pé, do seu barracão até o ponto do rio em que fundeavam as embarcações. E interessante era que parava precisamente onde terminava a terra e começavam as águas. Nunca se despregou da amizade que o unia a nossa família e a sua presença entre nós, sempre que, embora cego, aqui vinha, era motivo de alegria recíproca. Esse heróico cearense acaba de falecer, segundo carta que recebi de Belém, e nestas linhas deixo consignado o intenso pesar que isto me produziu e a todos os meus. Quero assinalar que poucas pessoas tenho conhecido na minha vida tão boas, tão estimáveis e dignas quanto era Antônio Montoril, cujo nome sempre guardarei na memória e no coração”. 
Antônio Montoril quando de uma viagem que fez a Castanhal, no Estado do Pará, em 1939, onde residia sua irmã Maria Montoril,o cunhado João Pereira de Araújoe as sobrinhas Lourdes,Olga e Juracy. Antônio usava um fato branco de linho e chapeu preto.Aparece na fotografia entre a sobrinha Lourdes Montoril e o cunhado João Lourenço de Araújo.A primeira moça a esqurda da foto é Juracy Montoril que hoje vive em João Pessoa, na Paraiba. Maria Montoril de Araújo, minha avó materna era integrante da Irmandade de São Francisco das Chagas que é o mesmo São Francisco de Assis.Usava cabelos longos, uma espécie de hábito comum aos religiosos e uma espécie de estola em volta do pescoço. Ao seu lado esquerdo aparece minha mãe Olga Montoril de Araújo(vestido claro e cinto preto)

Antônio Pereira Montoril faleceu no dia 2 de março, em sua propriedade denominada "Casa Nova Floresta", situada no Rio Tartaruga, município de Afuá, região que até a criação do Território do Amapá pertenceu ao município paraense de Macapá. Em Nota de Redação, o jornal “AMAPÁ”, edição nº 544, que circulou no dia 17 de junho assim se expressou: “Esta crônica do jornalista H. Firmeza foi divulgada pela “Gazeta de Notícias”,de Fortaleza, a 8 de abril do corrente ano.E hoje, reproduzindo-a, demonstramos o nosso preito da admiração e saudade ao desbravador Antônio Pereira Montoril, que por muitos anos residiu em Macapá, antes do advento territorial, e que bons serviços prestou à nossa terra comum.Nascido a 31 de janeiro de 1880, no interior do Estado do Ceará, esse bandeirante faleceu no dia 2 de março do ano em curso, deixando este mundo com a tranqüilidade que assinala o espírito dos justos. Vale pôr em relevo que a vida de Antônio Montoril decorreu, toda ela, em permanente atmosfera de profícuo e honesto labor, sendo de ressaltar a sua louvável qualidade de dedicado amigo do Amapá, que nunca deixou de colaborar, desinteressadamente, com as iniciativas que visam o progresso desta região”.
Casa Nova Floresta ao tempo em que pertenceu ao coronel José Serafim Gomes Coelho e que foi vendia a Antônio Pereira Montoril. A canoa a vela atracada no porto da propriedade levava o nome do importante politico que foi Intendente de Macapá e era natural do Ceará. O coronel Serafim teve importantissima participação no sucesso comercial dos irmãos Antônio Pereira Montoril  e José Pereira Montoril.
Antônio Pereira Montoril, tio de minha mãe Olga Montoril de Araújo, nasceu a 31 de janeiro de 1880, na cidade de Assaré,distrito do Crato, no Estado do Ceará. Foi o primeiro filho do casal Joaquim Montoril e Luzia Pereira Montoril que também conceberam Maria Pereira Montoril(1881),José Pereira Montoril(1891) e Alexandre Pereira Montoril(1893), esse o mais novo dos rebentos. Como bem frizou H. Firmeza, o cearense Antônio Montoril dedicou-se com afinco ao comércio, tendo trabalhando com o senhor Manuel Firmeza, genitor do jornalistae e foi muito bem sucedido nessa atividade empresarial. Em 1898, Joaquim Montoril veio para a Amazônia e se estabeleceu no Rio Tapajós cortando seringa. Cerca de dois anos depois ele retornou ao Crato e transportou os filhos Antônio e José para Macapá. Com a ajuda financeira do pai e com os recursos que eles mesmos obtinham, Antônio e José montaram casa de comércio, respectivamente no Rio Tartaruga o no Furo Grande. Antônio Pereira Montoril casou com Ana Maria Montoril, mas o casal não teve filhos biológicos. Decidiram pela criação de filhos adotivos: Rivadávia, Capitulina e Maria Mendes. Maria faleceu no lugar Santo Antônio(Antonino) no dia 17 de maio de 1956,onde tia Ana Maria gerenciava um estabelecimento comercial.Maria foi vitima de colapso cardiaco aos 15 anos de idade. Capitulina morreu em Macapá e Rivadávia vive em Belém.   

segunda-feira, 11 de março de 2013

DÁRIO CORDEIRO JASSÉ





                                DÁRIO CORDEIRO JASSÉ

                                                     Nilson Montoril
Primeiro desfile oficial realizado pela Associação de Escoteiros Marcilio Dias. A parada aconteceu na Fazendinha, área onde hoje está instalado o Parque de Exposições. O primeiro escoteiro da coluna do centro, após a Bandeira Nacional é o chefe Dário Cordeiro Jassé.
                         No dia 12/9/1945, ocorria em Macapá a instalação da Associação de Escoteiros Veiga Cabral. A iniciativa contou com o decisivo apoio do governador Janary Gentil Nunes que trouxe de Belém os chefes escoteiros Glicério de Souza Marques, Clodoaldo Carvalho do Nascimento e José Raimundo Barata. Eles não vieram apenas para fundar o escotismo entre nós,mas também desempenharem outras atividades como servidores públicos federais.Quase dois anos depois, no dia 13/7/1947, surgiria a Associação Marcilio Dias, modalidade mar, por iniciativa do professor de educação física e chefe escoteiro Dário Cordeiro Jassé. Nascido em Belém a 18/5/1921, o chefe Jassé era filho de José Jassé e Rita Cordeiro Jassé. Enquanto permaneceu em Belém residiu na Rua dos 48, por trás da Igreja da Santíssima Trindade e na Avenida 25 de setembro, nos fundos do Bosque Rodrigues Alves. Na capital paraense ministrou aulas de educação física em diversos estabelecimentos de ensino e integrou o movimento escoteiro. Convidado para trabalhar em Macapá, Dário Jassé aqui chegou em abril de 1947, sendo lotado na então Divisão de Educação e exercendo a função de Inspetor de Ensino. Fixou residência no bairro do Trem, onde a Prefeitura de Macapá havia concedido à associação que dirigia uma ampla área delimitada pelas Avenidas Cônego Domingos Maltez/Antônio Gonçalves Tocantins e pelas Ruas General Rondon/Eliezer Levy. De imediato foi demarcado um campo de futebol e iniciada a construção de um barracão. As instruções sobre o escotismo eram ministradas no Rivelim da Fortaleza São José.

No pentágono localizado à frente da Fortaleza, o chefe Dário Cordeiro Jasse ministrava os ensinamentos sobre  escotismo aos componentes do Grupo Marcilio Dias. As aulas sempre ocorriam a tarde e atraiam dezenas de curiosos, principalmente crianças.

 Casou com Raimunda Morais e com ela teve os filhos Carlos Fernando, Antônio Mário, Raimundo Sérgio e as filhas Célia e Regina. Em 1953, doente, o chefe Dário Jassé foi internado no Hospital do IPASE, no Rio de Janeiro, onde faleceu a nove de março. Seu corpo foi enterrado no cemitério São João Batista e governo do Amapá arcou com as despesas de seu funeral. Dário Jassé era o Comissário Regional da União dos Escoteiros do Brasil, no Amapá e Clodoaldo Nascimento o subcomissário. No dia 3/4/1953, às 10 horas, o Grupo Marcilio Dias prestou-lhe homenagens na área da entidade que fundara. Houve hasteamento da bandeira nacional e colocação de uma placa homenageando o extinto. O tenente Glicério de Souza Marques teceu breves comentários sobre a vida do Professor Jassé. Compareceram á solenidade: o Dr. Hildemar Pimentel Maia, governador em exercício, Heitor de Azevedo Picanço, presidente da União dos Escoteiros do Brasil - Regional do Amapá, Jacy Barata Jucá, presidente da Associação Marcilio Dias e Clodoaldo Carvalho do Nascimento, Comissário Regional substituto. Cantou-se a canção do silêncio e a valsa da despedida. Jacy Barata Jucá e Heitor Picanço desceraram a placa Dário Jassé com os dizeres: “Marcilio Dias, Campo Escola Dário Jassé”.
Foto da primeira Banda Marcial dos escoteiros do Amapá que puxou o desfile das bandeirantes e escoteiros das modadalidades terra e mar. O primeiro tambor da fila do centro era tocado pelo chefe Glicério de Souza Marques, membro da diretoria da Associação Veiga Cabral.
 Em 1958, o chefe Clodoaldo Nascimento foi ao Rio de Janeiro para providenciar a vinda dos despojos de Dário Jassé para Macapá, fato concretizado dia 17/11/1958, em avião do Lóide Aéreo Nacional. A urna mortuária, contendo na parte superior uma flor de lis, símbolo do escotismo, foi trasladada para a capela de São José, na Fortaleza de Macapá. Á época, ainda se falava na construção de um memorial destinado aos pioneiros da implantação do Território do Amapá e a urna contendo os restos mortais de Dário Jassé seria guardada no citado monumento juntamente com os despojos de Joaquim Caetano da Silva. Com o passar dos anos, muitos mentores da idéia deixaram o Amapá e ela foi fenecendo. Durante muito tempo as urnas de Joaquim Caetano e de Dário Jassé permaneceram na sacristia da capela da Fortaleza. Transferidas para outro edifício do velho forte, elas passaram a figurar como reserva técnica do Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva. Atualmente, a urna do patrono do museu está guardada no prédio da antiga Intendência de Macapá. 
Nesta fotografia vemos cinco dos primeiros escoteiros do Território do Amapá. No sentido dos ponteiros do relógio destinguimos na linha de frente os chefes Luciano, Clodoaldo Nascimento e José Raimundo Barata. Na segunda fila estão Pedro Nolasco Monteiro e Expedito Cunha Ferro, o popular "91".
A urna de Dário Jassé permanece como “reserva técnica” e mantida na Fortaleza. Tenho estimulado os filhos do chefe Dário Jassé a requerê-la e sepultá-la em jazigo da família. Isso ainda não aconteceu, mas o artigo que ora publico poderá dirimir algumas dúvidas que os familiares do ilustre chefe escoteiro por acaso ainda conservam. Afirmo com absoluta convicção que os restos mortais contidos na urna que está sendo mantida na Fortaleza são de Dário Cordeiro Jassé. Eu vi a urna chegar a Macapá e acompanhei o féretro até a Fortaleza. Naquele dia 17 de novembro de 1958, eu estava entre os escoteiros macapaenses, pois integrava o Grupo São Jorge. Dentre os pioneiros do escotismo no Amapá, ainda está vivo o chefe Cláudio Carvalho do Nascimento que à época figurava como um dos dirigentes da Associação Veiga Cabral.
Momento em que a carreta que transportava a urna mortuária do chefe Dário Cordeiro Jassé estacionava no pátio central da Fortaleza de Macapá e o chefe Raimundo Façanha direcionava a roda dianteira esquerda do pequeno veículo no sentido da capela de São José. Do lado oposto, entre os escoteiros que empurravam o carro vemos o chefe Luciano. No interior da carreta há dois lobinhos do Grupo Marcilio Dias.O lobinho que está perto do chefe Luciano é o Urivino Bandeira, ainda vivo. Dentre as pessoas que recepcionaram o chefe escoteiro falecido identificamos o senhor Belarmino Paraense de Barros, de roupa branca e o Inspetor da Guarda Territorial  Ítalo Marques Picaço que faz a saudação escoteira. Observe que a urna mortuária estava na carreta e sobre ela foi postada uma flor de lis, o simbolo do escotismo.Esta urna ainda se encontra guardada no interior da Fortaleza.
 O Manoel Ferreira, o popular Biroba, que era um dos chefes dos escoteiros do mar também testemunhou o fato aqui narrado. Os familiares de Dário Cordeiro Jassé precisam ter em mente que “O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida”. O chefe Clodoaldo Nascimento jamais traria para Macapá os despojos que não pertencessem ao grande amigo falecido na então capital federal. Entretanto, se os familiares de Dário Jassé têm dúvidas de que os restos mortais não são de seu ente querido, que recorram ao exame de DNA.