quinta-feira, 18 de julho de 2013

O BANCO DE CRÉDITO DA AMAZÔNIA EM MACAPÁ





             O BANCO DE CRÉDITO DA AMAZÔNIA EM MACAPÁ
              Por  Nilson Montoril

Dr. Gabriel Hermes Filho, presidente do Banco de Crédito da Amazônia quando da instalação da primeira agência dessa instituição bancária em Macapá.Ele presidiu o BASA de 22 de fevereiro de 1951 a 4 de novembro de 1954.
             Por volta das 8 horas do dia 7/7/1951, proveniente de Belém, aterrizava no aeroporto de Macapá, então existente no centro da cidade, um avião da companhia de aviação Cruzeiro do Sul, transportando entre seus passageiros o Dr. Gabriel Hermes Filho, Guilherme Vieira e Georgenor de Souza Franco, respectivamente presidente, Diretor da Agência de Belém e Oficial de Gabinete do Banco de Crédito da Amazônia sediado na capital paraense. Os bancários Pio de Menezes Veiga e Lourival Sales da Costa, funcionários da novel instituição também integravam a embaixada do BCA. Os ilustres visitantes foram recepcionados pelo governador Janary Gentil Nunes, pelo Secretário Geral em exercício Antônio Gillet e pelo senhor Francisco Torquato de Araújo presidente da Associação Comercial e Industrial do Amapá. Após os acordes de praxe executados pela Banda de Música da Guarda Territorial o governador Janary Nunes saudou as autoridades que nos visitavam.

O cidadão de terno mais claro,que ajuda o Dr. Aluisio da Costa Chaves a discerrar a fita por ocasião da inauguração da atual sede da Academia Paraense de Letras é o Dr. Goergenor de Souza Franco.Em 1951, ele exercia o cargo de Chefe de Gabinete do BASA e esteve em Macapá integrando a comitiva do citado banco que veio instalar sua primeira agência na capital do Território Federal do Amapá. O mais alto dos três personagem da presente fotografia é o Dr. Clóvis Silva de Moraes Rego.Aluisio Chaves governou o Pará de 1975 a 1978 e foi substituido exatamente pelo Dr. Clóvis.
 Do aeroporto, em viaturas oficiais, todos seguiram para o Macapá Hotel onde os visitantes ficaram hospedados. Ás 10 horas, em solenidade realizada no salão de festas do Macapá Hotel, ocorreu a instalação da agência bancária do BCA, a segunda a surgir na capital amapaense. Em nome do governo falou o Dr. Nady Bastos Genú evidenciando o esforço desprendido pelo governo territorial para conseguir a instalação da importante instituição bancária em terras do Amapá. Em seguida, fez uso da palavra o Sr. Francisco Torquato de Araújo, que no ato solene também representava as classes conservadores do Amapá, mostrando o drama vivido pelos produtores da Amazônia com a queda da produção da borracha e a falta de uma instituição de crédito que pudesse oferecer os meios necessários para sua recuperação. Á exemplo de outros comerciantes, Francisco Torquato de Araújo também se devotava à produção de borracha e possuía uma propriedade na região das Ilhas do Pará, cujas terras, até 13/9/1943, integravam o município de Mazagão.

Reunião do Conselho Consultivo do Banco de Crédito da Amazônia realizada em Belém,na sede da institução, no dia 18 de junho de 1956.Na cabeceira da mesa que presidiu o evento aparecem os membros da diretoria do Basa.Ao fundo,na lateral da mesa,com a mão direita no queixo vemos o Sr. Francisco Torquato de Araújo, representante do Território Federal do Amapá no referido colegiado. O Conselho Consultivo era integrado pela diretoria do BASA e por representantes dos Estados do Pará e Amazonas e Territótios Federais do Acre, Amapá, Guaporé(Rondônia) e Rio Branco(Roraima).

Ao se pronunciar, o Dr. Gabriel Hermes Filho deu posse aos bancários Pio de Menezes Veiga, no cargo de gerente e Lourival Sales da Costa como contador. A primeira agência do Banco de Crédito da Amazônia funcionou em um imóvel edificado na Avenida Coriolano Fineias Jucá, que pertencia ao empreendedor Fernando Lourenço da Silva, quase em frente à Loja Maçônica Duque de Caxias e que ainda permanece sob controle de seus descendentes. Ao ser encerrada a solenidade, o governador Janary Nunes preencheu sua ficha como primeiro correntista do banco e depositou a quantia de Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros). Só com os depósitos iniciais o BCA captou a importância de Cr$ 30.000,00(trinta mil cruzeiros). O gerente Pio Menezes ofereceu um almoço as autoridades territoriais e membros da ACIA, servido em sua residência. Às 17 horas, no auditório da Rádio Difusora de Macapá ocorreu um debate sobre as reais atividades da nova agência recém instalada. Os senhores Miranda Carvalho (Diretor do Serviço de Geografia e Estatística), Nady Bastos Genú (Diretor da Divisão de Produção), Francisco Torquato de Araújo (Presidente da ACIA e comerciante), Silvio de Carvalho Santos (Prefeito de Mazagão) e Moysés Zagury (comerciante) formularam várias perguntas aos membros da diretoria do banco, todas respondidas com bastante dose de convencimento. À noite, a Associação Comercial e Industrial de Macapá ofereceu um banquete ao pessoal do BCA no salão de festas do Macapá Hotel. A presença do BCA foi tão marcante que, a 12/4/1952, a instituição divulgou seu primeiro edital de concurso para praticante. Os inscritos foram submetidos a 4 provas: Português (eliminatória), Aritmética (eliminatória), Contabilidade e Datilografia.

Tipico barracão instalado à beira de um rio pelo comerciante(aviador) que financiava as atividades dos seringueiros.
                        A criação do Banco da Borracha, embrião do Banco de Crédito da Amazônia aconteceu no dia 19 de julho de 1942, decorrente do Decreto-Lei nº 4.451 com capital inicial de 50 milhões de cruzeiros. Surgiu após a assinatura de um acordo firmado no dia 3 de março de 1942, entre o governo brasileiro e a agência norte-americana Rubber Development Corporation, visando à criação de um estabelecimento de crédito que estimulasse a produção gomífera na Amazônia, haja vista que estava em curso a II Guerra Mundial e os japoneses impediam que os ianques e consumidores dos países aliados obtivessem borracha nos seringais do Oriente. A medida surtiu os efeitos esperados pelos norte-americanos até o final do conflito bélico e a rendição do Japão em agosto de 1945. 

Seringueira fornecendo o látex
Exercendo monopólio nacional da goma, o Banco da Borracha financiou os donos de seringais e comprou-lhes toda a produção. Com o encerramento da guerra, os seringais do Oriente voltaram a funcionar normalmente fazendo cessar o interesse dos Estados Unidos pela borracha brasileira. No dia30 de agosto de 1950, entrou em vigor a Lei nº 1.184 transformando o Banco da Borracha em Banco de Crédito da Amazônia.  Com a reestruturação implantada, o BCA ampliou seu campo de ação e, além da borracha, passou a financiar projetos relativos a outros extrativismos, indústrias, comércio e pecuária. O primeiro governo da revolução militar de 1964 alterou seu nome para Banco da Amazônia S. A.ou simplesmente BASA. No Estado do Amapá, o BASA possui agências apenas nas cidades de Macapá e Santana.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

GURGEL,TESTADO E APROVADO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO






           GURGEL, TESTADO E APROVADO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO

            Por  Nilson Montoril
Herminio Gurgel, o Pai D'Égua, apresentava o programa "Alvorada Sertaneja", de segunda a sexta-feira através da Radio Difusora de Macapá, emissora que já havia contado com seu concurso antes da instalação da televisão em Macapá. A dupla formada por ele e pelo Osmar Melo fazia a alegria de muitos e causava raiva aos adversários políticos do governador Annibal Barcelos. Herminio Gurgel comandava o programa e Osmar Melo fazia as reportagens. Ambos já faleceram,mas deixaram muita saudade.
                     Por ocasião das manifestações populares que vêm ocorrendo em Macapá, o atual governador do Estado do Amapá tem se retirado para o interior. Fontes oficiais dizem que as viagens do gestor amapaense são estratégicas e previamente programadas, mas há controvérsias. Para seus adversários políticos, as ausências do governante visam mantê-lo longe dos burburinhos das ruas e das hostilidades que lhe são direcionadas. Basta alguém falar em manifestação pública e lá vai o governador para o interland. Isso me faz lembrar uma época do período da revolução militar deflagrada no dia 31 de março de 1964, relacionada às visitas que autorirades do primeiro escalão do governo federal realizavam ao então Território Federal do Amapá. Quando tal fato acontecia as pessoas rotuladas como comunistas ou simpatizantes do socialismo eram presas, recolhidas as casamatas da Fortaleza São José de Macapá e liberadas apenas quando o figurão já não se encontrava entre nós. Esse procedimento causou muitos constrangimentos aos cidadãos diretamente atingidos, a seus parentes e a amigos. Posteriormente, as prisões deixaram de ser realizadas, mas os “rotulados” deveriam ficar reclusos em casa ou se ausentarem da cidade sede. Entre os indivíduos costumeiramente atingidos estava o amigo Hermínio Carlos Gurgel Medeiros, meu contemporâneo do Colégio Amapaense, contumaz contestador dos atos e feitos restritivos e punitivos que os governantes impunham ao povo. Gurgel adorava um muro. Não para ficar em cima, eximindo-se de tomar partido de qualquer vertente filosófica ou popularesca, mas sim para fazer bradar sua voz de nordestino desassombrado. Ele foi preso inúmeras vezes e nunca pensou em fugir do país como fizeram muitos falastrões que hoje querem vender imagem de heróis. Gurgel falava o que bem entendia e assumia suas atitudes. Durante o governo do general Luiz Mendes da Silva, o primeiro da fase revolucionária, Hermínio Gurgel foi preso várias vezes. Era acusado de agitador porque falava em demasia. Entretanto, nunca causou danos ao patrimônio público, não assaltou estabelecimentos comerciais ou delatou companheiros. No tempo em que estes fatos ocorriam, a indústria nacional fabricava veículos da marca Gurgel, havendo entre eles um classificado como Jeep e feito de fibra de vidro. Por ser considerado robusto e apropriado para superar obstáculos ingrimes e atoleiros, o Exército Brasileiro comprou várias viaturas. Os fabricantes valeram-se disso para anunciar em suas propagandas que o Jeep “Gurgel era testado e aprovado pelo Exército Brasileiro”. Foi o suficiente para que o Hermínio Gurgel adotasse essa frase e a divulgasse no programa que apresentava pela manhã na Rádio Difusora de Macapá depois que o comandante Annibal Barcellos, seu amigo, lhe garantiu a tranqüilidade da qual precisava. Porém, até a posse de Annibal Barcellos, Gurgel precisou se afastar da capital amapaense todas as vezes que ouvia a notícia de que uma autoridade federal viria a Macapá. Certo dia ele ouvia uma emissora de rádio quando saiu a noticia de que um presidente desembarcaria em Macapá. Imediatamente, sem ter o cuidado de ouvir a noticia por inteiro, ele se mandou para Porto Grande. Quando retornou no dia seguinte soube que o presidente era da Federação de Desportos do Amapá.  Valia-se do rádio para divulgar a propaganda de sua loja São Paulo Saldos, certamente uma das mais barateiras de Macapá. No rádio era conhecido como Pai D’Égua e fazia dupla com o Osmar Melo, o Pai Velho. A esposa Regina era seu braço direito. Brincalhão e gozador, Hermínio não poupava ninguém com suas brincadeiras e freqüentemente criticava um elemento fujão tido como guerrilheiro. Mesmo sabendo que poderia enfrentar problemas futuros devido à ascensão política do dito sujeito, Gurgel o fustigou por um bom período de tempo. Quando era advertido de que poderia sofrer represálias empresariais por parte do executivo, ele simplesmente dizia; “Eu sou Gurgel, testado e aprovado pelo Exército Brasileiro”.Hermínio Gurgel, rio-grandense do norte, comerciante, radialista e professor de inglês, faleceu no dia 24 de dezembro de 1994, vitimado por um enfarto.