quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ASSARÉ E SERRA DE SANTANA



                                        ASSARÉ E SERRA DE SANTANA

                                                                         Nilson Montoril

Imagem de Nossa Senhora das Dores, padroeira do Assaré.
                        O município cearense de Assaré dista 490 km de Fortaleza e 82 km da cidade do Crato. Possui uma área de 1.116,320 km quadrados e situa-se no lado oeste da Chapada do Araripe. A atual sede municipal despontou como vila em 1865, quando havia se desmembrado de Sobreiro. É município desde 1950 e conta com os distritos de Amaro, Genezaré, Aratana e Assaré. Ao ser desmembrado de Sobreiro o nome do município era Assaipio de Assaré. O clima é quente semi-árido com chuvas de janeiro a abril. Na língua tapuia, Assaré significa travessia diferente ou atalho. A Serra de Santana, que está localizada a 18 km de Assaré é uma das elevações importantes de Assaré. Existem várias fontes de água espalhadas por toda a área da Chapada do Araripe, na jurisdição de Assaré. A barragem Canoas é o maior reservatório de água da região. O antigo açude Bangüê ainda se mantém acumulando o precioso liquido, mas está relativamente assoreado. Perto dele ficava o Sitio Cachoeira, propriedade de meus trisavôs Antônio da Silva Pereira e Maria Angelina de Alencar da Silva. 

Memorial Patativa do Assaré. No local onde está erguido o prédio que abriga o acervo de Antônio Gonçalves da Silva existiu um casarão que pertenceu a uma família tradicional da cidade. Foi desapropriado pela Prefeitura de Assaré. O importante Museu, que é bastante frequentado por estudantes e populares, recebe apoio financeiro da Prefeitura, do Governo do Ceará e do Ministério da Cultura.
Foi herdada pela filha do casal Luzia da Conceição de Alencar da Silva, que alterou seu nome para Luzia da Conceição Montoril após o casamento com Joaquim Pereira Montoril. Antônio Pereira da Silva desempenhou o importante cargo de Juiz de Paz de Assaré. O casal Joaquim e Luzia gerou quatro filhos, que tiveram vida relativamente longa: Antônio Pereira Montoril, Maria Pereira Montoril, José Pereira Montoril e Alexandre Pereira Montoril. Minha avó Maria Montoril casou com João Lourenço de Araújo e concebeu dez filhos, mas apenas quatro alcançaram a fase adulta: Francisca Olga Montoril de Araújo, Francisco Olavo Montoril de Araújo, Francisca Lourdes Montoril de Araújo e Francisca Juracy Montoril de Araújo Cabral. Essa última vive em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba e fará 94 anos de idade no vindouro dia 20 de fevereiro.Maria e Lourdes estão sepultadas em Castanhal, onde faleceram.Olga Montoril
morreu a 5 de julho de 1955, na cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá.
Casa onde morou o Patativa do Assaré., em Serra de Santana. Atualmente o imóvel está precisando de reparos. A casa é bem espaçosa e contém alguns bens que não foram catalogados para integrar o acervo do Memorial, em Assaré. Antônio Patativa gostava de ficar sentado em frente da casa sentindo a suave brisa da Serra de Santana.
Na Serra de Santana morava Maria Pereira da Silva, a Mariinha, prima de minha trisavó Luzia Montoril, casada com Pedro Gonçalves da Silva. Entre seus filhos havia o Antônio Gonçalves da Silva, que se tornou poeta popular, compositor, cantor e repentista. Estudou apenas seis meses em escola de Assaré, mas tinha uma impressionante inteligência. Lia tudo que caia em suas mãos. Antônio nasceu no dia 5 de março de 1909. Ficou órfão aos 8 anos, em 1917. Em decorrência de uma doença conhecida como “dor d'olhos” perdeu a vista direita. Trabalhou duro na lavoura ajudando a mãe. Quando Antônio Gonçalves completou 16 anos pediu a sua mãe para vender uma cabra que lhe pertencia e comprasse uma viola. Ela o atendeu e Antônio passou a buscar parceiros para suas apresentações.

Fotografia tirada no dia 21/1/2014, no salão de recepção do Memorial Patativa do Assaré.No sentido dos ponteiros do relógio o flagrante mostra a Fátima Cidrão, Pedro Gonçalves, filho do Patativa,Nilson Montoril de Araújo e Rosa Araújo.Pedro é o mais novo dos filhos de Patativa,mora em Assaré e é pai de Fátima, coordenadora do Memorial.
 Fazia versinhos que serviam de graça para os assistentes. Progressivamente foi ampliando o palco de suas exibições e angariando fama. Em 1928, meu tio José Pereira Montoril, o Cazuzinha retornou a Assaré para rever familiares e amigos. Ele estava estabelecido na localidade Porto Serafim, no Furo Grande desde a década de 1910. Ali prevalecia a jurisdição do município paraense de Macapá. Em Assaré, Cazuzinha Montoril ficou hospedado na casa de seu primo José da Silva Pereira, a Pereirinha, que lhe falou a respeito de um parente de ambos residentes em Serra de Santana que era um prodígio de inspiração.

Patativa do Assaré segurando uma pássaro da espécie que lhe deu o nome artístico. Trata-se de um macho, cuja cor é acinzentada. A patativa fêmea tem a cor parda. O canto da patativa é suave e agradável. Antes dele receber esse apelido, o alagoano Augusto Calheiros já era chamado de "A Patativa do Norte".
 Destacava-se como improvisador, cantador em desafio a viola e outras modalidades conhecidas no folclore brasileiro. Cazuzinha Montoril decidiu ir a Serra de Santana para conhecer o primo violeiro e gostou da performance do parente. Foi preciso muita conversa para convencer Mariinha a deixar o jovem poeta acompanhá-lo ao Pará. A viagem para Belém, as suas custas, ocorreu no mês de maio a bordo do vapor Itapajé, as custas de Cazuzinha. Em Belém, Cazuzinha apresentou Antônio Gonçalves ao tabelião José Carvalho de Alencar, cearense do Crato que também era escritor e poeta. Carvalho organizou uma tertúlia e convidou um público seleto para prestigiar a apresentação de Antônio. O rapaz de Assaré fez uma formidável exibição

José Pereira Montoril, o Cazuzinha. Esse primo de Antônio Gonçalves da Silva o trouxe para a Amazônia,mais precisamente para o lugar Porto Serafim, no Furo Grande, Ilha do Marajó, que pertencia a Cazuzinha e estava sob jurisdição do município paraense de Macapá. Cazuzinha era irmão de minha avó Maria Montoril de Araújo e ambos nasceram no Sitio Cachoeira, em Assaré.
José Carvalho, em belas quadras deu a Antônio Gonçalves a alcunha de Patativa. O Major Cumaru elogiou o poeta, mas lamentou ele ser cego de um olho. Patativa de Assaré, ao agradecer os elogios dedilhou sua viola e cantou: “Minha sorte comigo, foi bem cruel e tirana, só me consente enxergar, três dias por semana”.Em 1928, o Intendente de Macapá era o tenente Otávio Accioly Ramos, amigo da família Montoril. Ele abriu as portas da Intendência Municipal para receber em tertúlia Patativa do Assaré. Em frente da edilidade havia uma grande casa amarela pertencente ao coronel Coriolano Finéas Jucá, cearense natural da cidade de Baturité, onde Cazuzinha Montoril se hospedava quando vinha a Macapá.

Os irmão Alexandre Pereira Montoril, Antônio Pereira Montoril e José Pereira Montoril, o Cazuzinha, irmãos de minha avó Maria Montoril,saíram de Assaré para prosperar em terras da Amazônia. Alexandre cursou odontologia em Manaus, onde galgou a patente de Coronel da Policia Militar do Amazonas e foi deputado estadual por quatro legislaturas. Antônio e José foram comerciantes bem sucedidos. O rapaz com a mão esquerda sobre o ombro direito de Antônio é o Rivadávia Montoril, seu filho que ainda reside em Belém.
 Desta vez Antônio Gonçalves da Silva o acompanhava. Dia 21 de janeiro de 2014, visitei meus parentes em Serra de Santana e vivi uma das maiores emoções de minha vida. Ali encontrei Geraldo, Inês e Aloísio, filhos de Patativa. Em Assaré conheci o Pedro e outro primo, o Raimundo Gonçalves, curiosamente conhecido como “Sem Preconceito”. Minha visita ao Memorial Patativa do Assaré foi marcante. Em pouco tempo vários familiares de Antônio Gonçalves e de meus antepassados que ali permaneceram foram ao memorial para conhecer o primo de Macapá. Passei mais de 4 horas conversando com os filhos de Patativa do Assaré e outros parentes. 

Geraldo Gonçalves da Silva é o filho mais velho de Patativa do Assaré. Tem 77 anos de idade, mas é dotado de espírito jovial. Muito parecido com o pai, costuma ser tratado como Geraldo Patativa. Na Serra de Santana foi o primeiro e nos recepcionar. Vez por outra declama alguns versos de seu pai.Adora conversar e contar novidades.Quando abusa um pouco no fraseado a irmã Inês lhe puxa as orelhas e pede desconto nas estórias que ele conta.
Conversa descontraída e alegre, principalmente quando o Geraldo Patativa fazia valer sua espontaneidade. As casas que visitamos são feitas de taipa-de -mão,um modo de edificação onde o barro bem amassado é fixado à parece composta por uma rede de ripas e ramos de árvores. Na cozinha da casa dos pais do Patativa vi uma espécie de dispensa edificada sobre o fogão,onde era guardada a produção de milho, arroz com casca e feijão.Como o fogo ficava aceso durante 24 horas, o calor e a fumaça que dele emanava impedia que os gorgulhos e outra pragas atacassem os alimentos armazenados. Geraldo, na brincadeira, disse que ali eram colocadas as moças velhas e feias que ficavam no caritó. 

Raimundo Iberalino,primo de Patativa do Assaré foi o primeiro membro da família a manter contato comigo.A foto foi tirada na recepção do Memorial. Na ocasião em que a fotografia foi batida eu anotava algumas informações importantes tendo minha esposa Rosa ao lado esquerdo. Iberalino tem o curioso apelido de "Sem Preconceito",mas em alguns momentos eu o identifiquei como "Sem Restrição". Solicito, chegou a oferecer sua casa,ao lado do Memorial para ficarmos hospedados.Na citada residência o Patativa residiu por algum tempo.
A estória do caritó o Geraldo falou a uma autoridade solteirona de Assaré e deixou a mulher muito enfezada. Inês lembrou que estiveram em Serra de Santana em época mais recuada, minha prima Capitulina Montoril e outros membros de minha família. Devido a problemas pulmonares a Capitulina precisava respirar ar puro,coisa que não falta naquela região elevada. Também passaram uns dias por lá Dona Sinhazinha, a segunda esposa de Cazuzinha, acompanhada do filho Joaquim e da enteada Luzia Lúcia, a Lucy. Meus avós João Lourenço e Maria Montoril migraram para Castanhal, no Estado do Pará, em março de 1932 e nunca mais retornaram a Assaré.

Ao centro, sentado, usando camisa azul vemos Antônio Gonçalves da Silva, o "Patativa do Assaré". Atrás dele, com a mão direita sobre seu ombro identifiquei a Inês, 74 anos,com uma filha, netos e netas. A esquerda de Patativa  está o Geraldo(camisa branca) e outros dois membros da família.(espero identificar todos em breve).
 Andaram por lá, há uns 30 anos minhas tias Francisca Lourdes e Francisca Juracy,com seus respectivos maridos José Alves de Lemos e Fernando Cabral de Melo,mas não encontraram os velhos amigos de outros tempos. Nos meus planos para as próximas férias, quando deveremos ir a Sergipe e Alagoas, incluirei uma permanência mais demorada em Assaré para rever os parentes e conhecer o que restou do Sítio Cachoeira e do Açude Banguê.

Uma foto rara de Patativa,sorrindo.

Na Rua Francisco Gomes nº 82,por trás da Igreja de Nossa Senhora das Dores, fica a sede do Memorial Patativa do Assaré. Estacionada na via pública vemos o veículo que usamos em nosso passeio pelo Nordeste. Sobre a calçada, em frente do Memorial vemos minha filha Débora e minha esposa Rosa.

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